Amanheces em meus olhos
E despertas-me à vastidão do mundo
Cabes em todas as minhas horas
Mesmo no esmaecer do dia
Lasso, lânguido e furtivo
Sob os olhares de aceno da noite
Permaneces em minha retina
Quando se abranda a luz
E as cores pálidas ainda se miram
No espelho da aquarela do horizonte
Num céu longínquo de nuvens inexprimíveis
Que talvez nunca te digam sobre mim
É em mim que sempre estás
Quando as mãos desdobram-se
Escrevendo o que não alcançam
E deixo o meu silêncio em teus lábios
Não existem pessoas, vozes ou gestos
Somente a melodia de cada palavra
Vibrando em notas de saudade
Que tocam em minha boca
Os acordes que desejam teus beijos
Poema ao acaso


Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e a não ter outra vista que não seja as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora.E porque não olha para fora logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas.E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma acender mais cedo a luz.E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora.A tomar café correndo porque está atrasado.A ler jornal no ônibus porque não pode perder tempo da viagem.A comer sanduíche porque não dá pra almoçar.A sair do trabalho porque já é noite.A cochilar no ônibus porque está cansado.A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra.E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja número para os mortos.E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir.A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta.A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita.E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.E a ganhar menos do que precisa.E a fazer filas para pagar.E a pagar mais do que as coisas valem.E a saber que cada vez pagará mais.E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.A gente se acostuma a andar na rua e a ver cartazes.A abrir as revistas e a ver anúncios.A ligar a televisão e a ver comerciais.A ir ao cinema e engolir publicidade.A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.A gente se acostuma à poluição.As salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro.À luz artificial de ligeiro tremor.Ao choque que os olhos levam na luz natural.Às bactérias da água potável.À contaminação da água do mar.À lenta morte dos rios.Se acostuma a não ouvir o passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer.Em doses pequenas, tentando não perceber, vai se afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá.Se o cinema está cheio a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço.Se a praia está contaminada a gente só molha os pés e sua no resto do corpo.Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana.E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito.A gente se acostuma para poupar a vida que aos poucos se gasta e, que gasta, de tanto acostumar, se perde de si mesma.1972


quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Senti...senti, a brisa refrescante


Senti...senti, a brisa refrescante
Do mar.
Ou talvez o perfume de sândalo
No ar.
vi.. simplesmente, vi
a flor do maracujá.
cores e cores
a se misturar
senti.. senti no teu olhar
chama ardente,
capaz de queimar.
Ou, simplesmente vi,
vi..Uma lágrima rolar
Molhar os teus olhos
Borbulhante a bailar.
Ouvi..ouvi melodia.
Rouxinol, a cantar
Será? será o seu canto?
Ou do sabiá.
Cantei..cantei a musica
Dos anjos além
Talvez,, sonhei,
Sonhei que era fada
Ou anjo também.
Vi..vi o certo
E o incerto, de mãos dadas
Andar.
Toquei...toquei no cometa
Com o meu polegar.
Não sei.. talvez
Talvez sejam sonhos
Ou seja, o acordar.

autoria: Mara Laurentino

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Ao Mestre com Carinho - Filme e Clip By Silvano José


Ser professor é padecer no paraíso?